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O que faz um psicólogo no pré e pós cirurgia bariátrica?

O post de hoje é motivado pelo curso que acontecerá no sábado, dia 01, organizado pela clínica Caaesm, da qual sou sócia. O tema do curso é Avaliação pré e pós cirúrgica na bariátrica. E não adianta aprendermos as técnicas e formas de manejo se nossos pacientes não compreenderem a importância do acompanhamento antes da cirurgia e após a cirurgia, não só imediatamente, mas meses depois do procedimento.

Antes de mais nada, é importante ressaltar que a técnica da cirurgia bariátrica é apenas umas das formas possíveis para tratamento da obesidade. Sim, tratamento! Quem "pode" (cumpre todos os requisitos para fazer a cirurgia) normalmente apresenta outros problemas de saúde que a acompanha a obesidade, como hipertensão, diabetes, síndrome metabólica e, principalmente, problemas psicológicos como depressão, ansiedade, baixa auto -estima, baixa qualidade de vida e deficiências nutricionais. Logo, a questão estética, como se pensa, não é prioritária. 

Levem em consideração que, atualmente, 200 milhões de homens e 300 milhões de mulheres  estão com sobrepeso e que 65% da população vive em países em que o sobrepeso e a obesidade matam mais do que o baixo peso e a desnutrição (OMS,2008). Assim, entende-se que o crescimento exponencial do número de cirurgias bariátricas no Brasil, que praticamente quadriplicou, aumentando de 16.000 em 2003, para 60.000 em 2010 (Flores, 2014).

Apesar de ser uma técnica muito eficaz, a cirurgia bariátrica necessita que o paciente modifique seus hábitos alimentares, modifique sua relação com a comida, enfrente e identifique uma nova forma corporal e lide com os desafios diários de resistir à tentações. Aí se faz presente o trabalho do psicólogo.

O psicólogo então, irá acolher o paciente em suas demandas e dúvidas quanto ao procedimento, expectativas futuras, possíveis mudanças e relação com a comida. Nesse momento, o psicólogo também irá avaliar se existem fatores psicológicos que possam atrapalhar ou auxiliar o processo cirúrgico. Por isso, a utilização de testes, escalas e inventários, para avaliação de aspectos da personalidade, indicativo de depressão, ansiedade e outros transtornos, padrão alimentar, existência de transtornos alimentares, compulsão alimentar, habilidades e aderências as recomendações médicas e motivação para cirurgia. Não existe um tempo ideal para essa avaliação, cada caso é particular e dependerá do manejo do psicólogo.

Após a cirurgia, recomenda-se também o acompanhamento terapêutico. O paciente bariátrico terá que enfrentar frustrações (afinal, se alimentar sem fome e tomar 30 ml e aceitar que não sentirá fome somente com esse alimento são pensamentos e dificuldades comuns), lidar com restrições alimentares severas, seguir acompanhamento médico e nutricional correto. É também bem comum pensamentos de arrependimento "eu não deveria ter feito a cirurgia", "eu não vou suportar" nos primeiros dias, onde o estresse e as emoções estão afloradas. O psicólogo irá ajudar a manejar o estresse, dificuldades em relação à aderência, organização do tempo para alimentação, pensamentos derrotistas, sabotadores e de desistência e irá trabalhar metas realísticas, afinal, a cirurgia não é mágica.

É importante ressaltar que o acompanhamento deverá ser feito a longo prazo. Muitos pacientes sofrem reganho de peso, justamente por não compreenderem que a obesidade é uma doença e requer tratamento multidisciplinar e contínuo. A cirurgia é uma ferramente, mas os hábitos saudáveis nutricionais e físicos precisam ser para toda a vida. Esse é o sucesso da técnica e a única forma de evitar o reganho de peso.

Por Juliana Lopes Fernandes CRP 05.40705

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